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MÚSICA: IMPROVISO NÃO VEM DO NADA

Diferente do contrário que se pensa, improvisação não significa tocar qualquer coisa, ou só um "fazer na hora", na verdade, para mim, é algo muito mais filosófico que isso...

Isso é até difícil de definir, mas para mim, improvisação é parte da alma do músico, uma apresentação do estilo da pessoa, improviso não é algo que foi "feito na hora" como as pessoas pensam, essa definição é muito rasa porque a pessoa na verdade não aprendeu todas aquelas técnicas e construiu seu conhecimento musical ali naquele momento, muito menos desenvolveu um estilo próprio em um dia.

Então quando você vê um improviso, na verdade aquilo não veio do nada como as pessoas pensam, improviso é uma construção que vem com o tempo e prática, um acúmulo de experiências, seja na bagagem de técnicas ou do desenvolvimento de estilo pessoal do músico que foi construído com anos de prática do músico. Ou seja, a menos que você seja um deus, nada vem do nada.

Quando você pensa por essa visão, você entende que é algo filosófico porque aquele improviso de alguém é a forma de expressão daquele ser que foi construída por anos, é a forma como aquele individuo pensa musicalmente e se torna ainda mais filosófico pensar que qualquer outra pessoa no lugar faria algo diferente porque a alma do músico está em cada nota que ele escolheu tocar e que escolheu não tocar.

Parece filosofia demais para um texto só, mas acho particularmente raso quando definem improviso como "tocar qualquer coisa na hora" porque improviso na verdade tem ligação total com a identidade do artista, eu como guitarrista posso dizer que se eu tentasse de propósito criar algo que não tem nada haver comigo, eu seria assombrado por mim mesmo.

Isso chega em um outra reflexão e conclusão triste que é: chegar a conclusão que na verdade existem sim pessoas por aí na sociedade que só "tocam qualquer coisa na hora", por justamente terem uma falta de personalidade como pessoas, rasos como individuos, não sabem quem são, são pessoas totalmente apáticas. Esse tipo de gente me incomoda, são mortos-vivos no sentido literal da palavra, vivem assistindo suas vidas e não de fato vivendo. Mas, acho que essa conclusão já se torna uma questão mais para psicologia estudar talvez...

—Guilherme Faura, 28/05/2023