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MÚSICA: UM GUIA DE COMPOSIÇÃO

Eu nunca falei sobre composição porque na música não há realmente guia mágico para ser seguido para se obter uma composição e isso pode se tornar complexo com um estalo, vou falar sobre isso e o meu processo, ok?

A música, diferente das outras artes, é uma arte criativa, mas com regras. No entanto, as regras não são uma receita de bolo e muitas vezes as regras não significam nada, elas existem para te mostrar o que você pode fazer na música (por exemplo: que estruturas de tempo usar, se é 4:4... que escalas usar para um solo ou melodia...). Essas regras se chamam "Teoria Musical".

E isso pode se tornar complexo em um estalo, pois cada gênero musical tem seu estilo e sonoridade, logo "receitas de bolo" nem são uma coisa admirável de se seguir na música, a não ser que queira que sua composição tenha 4 acordes a música inteira e seja repetitiva ou pior... uma cópia. É isso que "receitas de bolo" causam na música.

E você vai ver gente por aí com uma atitude "isso é fácil" e odeio profundamente esse tipo de gente de qualquer área, nenhum verdadeiro gênio tem realmente essa atitude. Bach não olhava para uma partitura dele e dizia ser fácil (acho que isso seria até uma ofensa, dizer que uma composição complexa dele que ele deu a vida para fazer fosse "fácil"...). Quando vejo esse tipo de gente, eu sei que é um impostor ou um narcisista. Falar é fácil. Seria mais fácil para mim vir aqui e ser também um impostor dizendo que "composição é fácil", mas não é e eu não sou assim. Quero que reconheçam a complexidade e simplicidade das coisas como elas são!

Composição não é fácil, ponto final. Reconhecer isso é o primeiro passo de humildade que você pode admitir. O processo é talvez parecido com poesia, você não se torna um poeta lendo um livro de gramática, o livro de gramática vai te dar regras linguísticas, essas serão suas ferramentas, mas não um passo a passo de como escrever um poema sobre um tema X. Você se torna um poeta quando escreve poemas e isso vem com a prática. Mesma coisa com a música.

Uma coisa que eu faço é estudar minhas inspirações, portanto tenha inspirações como referência. Eu estudo o que eu gosto de ouvir, vejo o que o estilo costuma fazer, que técnicas instrumentais são comuns para o estilo, que escalas musicais aquele estilo geralmente usa, sobre o que geralmente são os temas e o que costumam dizer liricamente. Isso vai te fazer ter referências em mãos, isso é de certa forma o seu "guia" (entre aspas porque devemos lembrar que música não é uma receita de bolo e muitas regras foram feitas para serem quebradas...).

Para exemplificar o que quero dizer tecnicamente, na minha música autoral "Guilherme Faura — Primeiras Coisas / Últimas Coisas..." eu quebrei "regras" na composição dela. É muito comum de se ver o genero do Metal no geral, em sua forma comum, a nota tônica em Mi e o uso da Escala Pentatonica menor de Mi. E lá estava eu compondo um Thrash Metal em Dó menor e misturando a Escala Pentatonica Menor de Dó + Escala Cromática + Intervalos Trítonos socando velocidade e raiva no meio hahahaha. Esse era o proposito dela, me desafiar e colocar o sentimento de raiva ali em forma de muita técnica, em uma só música, com minha marca ali. Queria ver o que eu era capaz de fazer, principalmente depois de já ter passado por um episódio de ter sido subestimado na vida como músico (mas isso fica para outra história).

Então, levando ainda em consideração o exemplo anterior, eu defini minhas variáveis ao longo da composição. O gênero musical era Thrash Metal, o tempo (BPM) era alto, sua tonalidade era Dó menor, as escalas utilizadas foram a Escala Pentatonica Menor de Dó, a Escala Cromática e Intervalos Trítonos, o sentimento que eu queria passar instrumentalmente era raiva e o processo de mixagem (apesar de não ser mais responsabilidade do músico, mas eu produzo minhas próprias músicas) também teve suas variáveis, como a escolha de Guitarras L + R com timbres agudos e distorções de alto ganho... Você vai definindo as variáveis da sua composição e isso é muito pessoal, por isso, novamente, composição é muito complexa de ser ensinada de forma geral, que sirva para todos.

Outra coisa que me ajuda a trazer ordem para as ideias é organizar a música em estruturas musicais e escrever ela em uma tablatura ou partitura. Isso me permite compor de acordo com o plano prévio. Estou falando de estruturas como [INTRO], [VERSO], [BRIDGE], [REFRÃO], [SOLO], [OUTRO]... Assim, eu crio limites saudáveis para minha imaginação para não ter o risco de compor algo sem fim; ou algo não-uniforme; ou algo que soe diferente toda vez que for tocado... assim não permitindo essas coisas acontecerem. Isso também me ajuda a memorizar as partes, você divide sua música em seções bem definidas.

Seções bem definidas são limites saudáveis principalmente para guitarristas solistas, já que temos a tendência a improvisar nas partes de solo e isso pode ser um problema se seu proposito for gravar uma música em um álbum, você pode acabar nunca conseguindo reproduzir o solo de novo como da forma que foi gravado se este não estiver bem previamente definido e terminado.

Eu poderia continuar, mas acho que já deu para ter uma ideia do quanto composição é algo variável e com muitas variáveis em jogo. E muitas regras já foram quebradas na história da música — principalmente no Rock e Metal — e isso que faz dela, a música, naturalmente complexa, pois como dito no começo deste artigo, música é uma arte com regras. Espero que esse guia (que não é exatamente um guia hahaha) tenha te ajudado de alguma forma ou te confundido mais hahahaha... digerir novos conhecimentos faz bem para o nosso raciocínio.